Tudo que é polêmico e escandaloso é reprisado e reprisado e reprisado mais uma vez. Não podia ser diferente, no atual problema enfrentado por artistas dos quadrinhos e pela editora Via Lettera no caso de "Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol". O livro foi comprado pelo Governo do Estado de São Paulo e distribuído a estudantes da terceira série. O governador José Serra assumiu a culpa, num primeiro momento. Ao vivo, no telejornal da Rede Globo, o "SPTV", o disse que tudo na obra era "de muito mau gosto, um horror". governador José Serra classificou a obra de muito mau gosto, um horror. Os apresentadores do jornal botaram ainda mais lenha na fogueira, se mostrando chocados com o fato.
O problema é o que a mídia insistiu em fazer, depois do acontecido: ao invés de culpar o governo do Estado pela péssima idéia de distribuir um quadrinho feito para o público adulto para crianças do ensino fundamental, insistiram em pôr em dúvida a qualidade dos desenhos e do conteúdo. O livro "Dez na Área" conta com a participação de ícones talentosos do quadrinho nacional, e não foi criado visando o público infanto-juvenil. A má distribuição deveria ser o único problema em questão.
Ainda que, depois de baixada a poeira, algo de interessante possa ser retirado da situação - como a volta dos quadrinhos para o foco da mídia e o considerável aumento das vendas do livro da editora Via Lettera -, nem tudo é positivo...
A matéria acima pertence também ao "SPTV", o mesmo telejornal culpado pela condenação brutal do conteúdo do "Dez na Área" resolveu colocar em pauta o mesmíssimo problema - mas agora o foco era uma obra de ninguém menos do que o mestre Will Eisner. Ainda que tenham, no final da matéria, uma pequena nota dizendo que o problema em questão não era a qualidade da obra e sim o público que deveria lê-la, o mal já estava feito. Como disse Paulo Ramos - autor de "A Literatura dos Quadrinhos" - em seu blog - de onde esse post foi inspirado -, 'valia a matéria'?
Disse Paulo Ramos, no seu blog: "É de uma obviedade absurda dizer que uma obra direcionada a adolescentes e adultos esteja numa biblioteca. Mesmo sendo um espaço frequentado por crianças.
O óbvio é que isso ocorre em qualquer biblioteca escolar. Há livros para diferentes públicos. Inclusive o infantil. Cabe a uma bibliotecária controlar o acervo e o empréstimo. O alarde da diretora evidencia um claro despreparo dela. Essa, talvez, seria a matéria.
Mais um fato poria a pauta à prova: o ministério da Educação está correto. A obra foi selecionada para o ensino médio, de modo a compor bibliotecas escolares. A lista do PNBE inclui para o mesmo público outras duas obras de Eisner - "O Sonhador" e "A Força da Vida" - e duas nacionais - "Domínio Público - Literatura em Quadrinhos" e "O Alienista", vencedora de um Prêmio Jabuti em 2008."