Mortalha

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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Produzindo um e em um Sketchbook



Há um bom tempo venho preparando esse post, aos poucos. Espero que ele ajude algumas pessoas. Desde 2008 tento produzir em sketchbooks, no meu dia-a-dia, mas só recentemente entendi a forma correta (ou pelo menos uma das formas corretas...) de usá-lo.

Esse ano é o meu quarto como ilustrador freelancer, e ando produzindo cada vez mais - para os outros. É uma evolução normal. Isso fez com que eu produzisse menos de forma autoral. Desenhar foi cada vez mais se tornando um trabalho, no mesmo ritmo em que meu tempo livre foi diminuindo.

"Pintar é minha obsessão, meu divertimento e meu tormento de todos os dias."
- Monet


Produzir no sketchbook parecia ser uma extensão dos meus trabalhos.

Eu sempre soube da necessidade de manter o exercício constante e o aprendizado do desenho, mas às vezes sentia uma certa obrigação em sentar para desenhar no sketchbook quando, por exemplo, tinha passado um dia inteiro mergulhado no computador em algum trabalho pra agência/editora. E isso deixava minha produção um pouco travada, e bastante cansativa. Não havia nada de autoral ali, era só um exercício mecânico.

"Quando eu tinha 15 anos sabia desenhar como Rafael, mas precisei uma vida inteira para aprender a desenhar como as crianças"
- Pablo Picasso


Até que tive um certo insight. Eu estava produzindo no sketchbook usando o mesmo tipo de raciocínio que eu tinha quando estava trabalhando. Mas produzir no sketchbook não era pra ser uma libertação? Um exercício de soltura, uma quebra de métodos, experimentos, descobertas de novas fórmulas...? E isso tudo era exatamente o que eu não estava fazendo.

Comecei a produzir alguns cadernos artesanais, mais finos, que eu preenchesse em um período de tempo mais curto (aqueles sketcbooks gigantescos sempre me incomodaram, porque acabavam agrupando momentos muito distintos de produção e interesse temático; sem contar o fato que o peso não permitia levá-lo sempre comigo). Acabei chegando em um tipo de caderno que me agradava muito mais do que os antigos.



Logo em seguida comecei a ver que os resultados me agradavam mais.
Eu comecei a experimentar novas estilizações, novas maneiras de resolver antigos problemas gráficos, sem me importar se o resultado era bom ou não. O erro, aliás, é sempre uma boa coisa. É no erro que está nossa evolução e os novos caminhos...

"Criatividade consiste no total rearranjo do que sabemos com o objetivo de descobrir o que não sabemos"
- George Kneller


Aí comecei a usar tintas, pastéis, lápis, papéis novos nos sketchbooks, também. Aí eu consegui perceber de fato o quanto minha produção antiga nos cadernos era travada e mecânica.
Comecei a entender que um sketchbook é um local de experimentação, e não de produções de acabamento impecável. É um exercício, e não necessariamente um portfólio. Nem todos os trabalhos vão resultar em produções levadas para fora dele.
Novos materiais e manchas (ainda mais se as fazemos ao acaso) pedem novas soluções, e te forçam a explorar novos caminhos. Te fazem, aos poucos, começar a entender o que realmente é o seu traço.







Apesar de tudo, não acho que hoje em dia minha produção nos sketchbooks esteja solta o suficiente. Ainda vejo alguma fórmulas que se repetem e muitas imperfeições. Mas já é um bom caminho.

Segue abaixo um PDF de algumas das produções nos sketchbooks - nos últimos meses. Basta clicar visualizar, como se estivesse folheando. Espero que gostem!